à perversão de minha poesia

Foges de mim?
Eu tinha um verso a recitar-te,
Mas esqueci.
O tempo apagou-me a memória.
E tua face apagou-me o resto.

A expectativa de ver-te corroía-me os ossos.
A cada passo, vi teus passos.
A cada rosto, vi eu rosto.
A cada olhar, teus olhos.
Brilhantes olhos.
A desabrochar nos meus.

Eu vi teus seios.
Firmes, doces.
Os quais minha boca devora,
Em meus mais loucos e pervertidos sonhos.
Qual proibido fruto proibido da árvore do paraíso.

Não me deixes mais.
Que a febre da sua ausência provoca-me febre.
Que tenho orgasmos por fechar os olhos
E ver tua boca.
Tua boca entreaberta pronta a desposar-me.

Sou homem, sou mulher.
Sou as pernas abertas que te querem.
Sou o pênis que te deseja.
Em todos os seus líquidos, me banho.
Te rasgo, te tomo, te devoro.

o mundo

às vezes o mundo é algo enjoativo.
às vezes o mundo é algo tedioso.
às vezes o mundo é sagaz, atroz, audaz, veloz.
terrível, perigoso,
romântico, nojento.
doce. amargo. ácido. sangue!
às vezes eu me esqueço de que o mundo é  mundo.

(escrevi. e não sei o que significa. espero que alguem possa me dizer.)

mesa de bar

- Esperando por alguem?
- Sim.
- E esperava por mim, imagino.
- Odiaria ter que lhe dizer a verdade.
- É a verdade que está esperando por seu marido, noivo ou namorado?
- É a verdade que estou esperando por outra pessoa.
- Sendo assim eu posso me sentar. Deixe-me perguntar, pois seus mistério não me deixou escolha, a quem espera?
- Minha mãe.
- Oh, sim. Minha futura sogra.
- Que ela não saiba disso, embora seu charme não me permita contradizê-lo.
- Charles.
- Juliet.
- Um café?
- Um vinho.
- Excelente escolha.
- E para que tanto mistério?
- Para manter o personagem.
- Decerto, ele precisa de quem zele por ele.
- E estes somos nós, pressuponho.
- E o nosso vinho.

presságio de tempestade

Os ventos oscilavam, tempestuosos. E daquele banco a garota podia ver muito bem o mar. As nuvens no céu, presságio da tempestade, bem podiam representar o ano que passou, a vida que passou e o menino que morreu.
Vai chover forte... Saia daqui, menina gritou um velho carregardor  Além do mais porto não é lugar de criança. Você pode se machucar.
Não sou mais criança resmungou. Mas o velho não estava mais lá, e mesmo que estivesse não a ouviria. Eu matei meu filho.

Miedo

Eu tenho medo.
Tenho da hora em que esse sonho acaba.
Tenho medo da hora em que você descobre a verdade.
Tenho medo do dia em que você se cansa.
Tenho medo daquele que virá te buscar.
Tenho medo do tempo, medo do dia, medo da hora, medo daquele, medo de tudo.

Por isso nunca te beijei, nunca te toquei, nunca fizemos sexo, nunca dormir em sua sua cama, nunca sequer falei contigo.
Lhe admiro a distância, por que sei quando tomar-te em meus braços, já poderei prever o dia em que matarei todo seu amor.

Quanto a estar

Eu buscava algo que não sabia o que era. Não poderia saber, nem deveria. Mas procurava com afinco, escavava, rebuscava, dilacerava. Como se não tivesse controle, agi como louco. Mas não podia.
Talvez fosse poeta, mas não me atreveria a dizer. Talvez fosse artista, mas não haviam travessuras. Cerquei-me de flores e fúria. Matei-me diversas vezes antes que viesse a vontade de ressuscitar. eu quis fugir, mas nunca tive coragem. ele me sorriu, embora não devesse.
O que você procura mais exatamente?
Um sonho.
De que tipo?
Um que seja doce.
Talvez só precise andar.
Talvez eu só devesse mesmo sentar à distancia e esperar. e ver a água. quem sabe o tudo não fosse tão suficiente como antes parecia ser. Eu me perdi.
Você consegue respirar as estrelas?
Eu poderia lhe dizer tudo o que amo e ainda assim não seria suficiente. Como entre os cálices dessa noite. Vaga escuridão. Mas então a água trás o som da luz. Eu queria estar só. Eu pedi para que assim fosse, mas agora não me satisfaz. O lobo. Ouço todos os gritos encerrada na serenidade do meu silêncio. Mas perdi todo o ânimo.
que posso fazer para ser feliz?

O artesão

Era um homem odioso, de olhar impenetrável e hábitos imundos. Sempre considerei difícil conciliar sua arte com seu gênio. Não foram poucas as vezes que planejei mata-lo. Asfixia-lo em seu sono, envenena-lo em seu almoço, cortar sua garganta quanto lhe cortava o cabelo...