Férias

Ela arrumou as malas e foi.
Sem pensar, sem planejar,
apenas foi. Fugiu da capital.

Foi em direção ao mar,
foi em direção ao céu,
foi em direção sol.
Renovar o espirito,
mergulhar na natureza,
perder-se na areia da praia.
Ela apenas foi.

E trará mais poesia na mala,
quando voltar.
Deus sabe que sim.

Das baianidades

- Ô pai, calça a sandália.
- Ah, mainha, quero não. - vez por ourtra a mulher instava o menino que brincava na lama enquanto via a mãe pendurar as roupas nas cordas amarradas em madeiras fincadas no chão do quintal.
- Pronto, cabei. Vamo entrar.
- Eu já vô.
- Bora, menino que eu ainda tenho que preparar o almoço.
- Vai fazer o que hoje?
- Ensopado de galinha e macarrão.
- Ah, mainha, com tempero?!
- É, e nada de catar o tempero viu?
- E eu ganho o que?
- Rapadura na sobremesa
- Ah, mas isso eu como todo dia, não tem graça.
- Então... uma cocada.
- Das de vender?
- Da branca, que você mais gosta.
- Bota minha comida, bota! - o menino atravessou a porta em disparada e se sentou no banco da cozinha, balançando as perninhas no ar e com uma colher na mão.

Sem título 1

Eu queria ter você aqui agora. Passar meus dedos nesses seus lábios grossos. Sentir suas costas nas palmas das minhas mãos. Para esses seus deads escorregarem pelo meu rosto e ombros enquanto me beijas. Queria beijar esse teu rosto moreno e sorrir só de ver o teu sorriso.
Ribeira, Salvador. Por Ricardo Sena 

Aquela rede na varanda nos espera. Ela sente falta de quando, a noite, você lia pra mim. Eu sinto falta da sua voz grave, com seu sotaque, já fraco, mas que resiste ao tempo. Ainda sinto o gosto daquele doce de coco e abacaxi, receita da sua avó. Tentei, mas não sai igual.

Sua mãe veio aqui dia desses. Tomamos água de côco na varanda, eu lembrei mais ainda de você. Ela disse que você ainda vai casar comigo. Disse que sou a nora mais linda, mais inteligente e mais divertida que ela já teve. Ainda deve ter algum resto de humildade em mim, mas não sei onde está.

Volta pra mim, volta logo, te espero. Te perdoo, te amo. Me perdoe, me ame. E nunca mais brigaremos.

o céu

ontem à tarde o céu era a coisa mais linda que já vi na vida. Não havia ninguém mais na rua. Eu era o único ser humano capaz de apreciar aquela maravilha alaranjada. As nuvens fluorecentes contrastavam com o azul adormecido do céu do entardecer. Mal reparei as pessoas que de repente apareceram a minha volta. E eu, que mal conseguia olhar pra outro canto, não entendia como eles não viam o céu. Eu não compreendia como eles não se maravilhavam e simplesmente seguiam suas vidas sem para ao menos um instante para contemplar com aquela beleza imensurável. Mas em algum momento tudo foi se apagando e o alaranjado sublime deu lugar a um azul escuro devastador. E aí eles viram.
- Já é noite. - disseram
Só viram a beleza depois que esta se apagou.