Sem título 3

Vejo os pés a rastejar na porta.
tchac. tchac. tchac.
Escurece a greta ( aquela mesma rachadura na janela).
Seria um olho? Quem vê?
Quem me poderia ver?

Ouço o som de passos a descer a escada.
Passos rápidos.
Ele me toma.
Troquei de ato.
Não me interessam mais os passos.
Não enquanto suas mãos passeiam pelo meu corpo
semi nu, jazido no sofá.

Passos rápidos na porta.
Troca.
Mas ele toma minha atenção.
Sua língua a descer pela minha barriga.
- Ela não virá agora. - me diz.
E me toma.
Dentro de mim.
Pulsa.
Grito.]

Aaaaah.
- É ela!
- Quem se importa? -  ri.
Ele não. Eu deveria.

Mas seu pulsar...
Lento. Rápido. Rápido. Lento. Puxa.
Oh!
Assim!

Esqueço dos pés.
Dos passos.
Do rastejar na porta.
Ofegante.
Grito.

Aaaaah!
Grito.
Não pare!
Oh! Por Deus, não pare!
Aaaaah!
Orgasmo.
E cair em seus braços.

- Ela não chegou. - me diz, desdenhoso.
Sorri. Ele acertara mais uma vez.

Carta de mim a quem quer que esteja lendo

Não nos vemos há um bom tempo, não é mesmo? Eu queria te ver, mas como sempre, culpei as coisas. Eu sei, você odeia quando eu digo que estou presa pelo tempo. Mas, não é que não confie em você, é que realmente não consegui te escrever antes. Agora as coisas estão mais calmas. Larguei a faculdade. É eu não tenho juízo (e me orgulho disso você sabe). Troquei a perspetiva de morar no Corredor da Vitória para viver de arte (e morrer de fome). Já estou com alguns projetos, mas parece que ninguém ouve minha voz. Eu sabia que isso ia acontecer, mas ninguém está preparado pra quando acontece. Sabe aquela sensação de ter nas mãos um tesouro que ninguém vê? Enfim.

E quanto às minhas aventuras com o moço dos olhos verdes, estão me arrastando pro buraco. Ele precisa deixar que eu me afaste. Odeio sentir que estou presa a alguem, você sabe. E eu estou presa a ele, nem consigo odiá-lo em paz. O que você acha que eu devo fazer? Ele diz que gosta de mim, mas... Talvez seja medo mesmo. Mas e daí? Você me conhece, eu não posso com isso! Enfim.

Mas e você como anda? Quem tem feito? Como se sente? Falei tanto de mim que esqueci de dizer o quanto pensei em você. As vezes na rua, eu comentava com outros o quanto sentia sua falta. Espero que também tenha sentido falta de mim. Depender de você eu gosto. É um dos poucos sabia, devia ficar feliz com isso. Enfim.


Atenciosamente,




ps. não vou lhe prometer que agora eu volto de vez. já fiz isso muitas vezes. mas, mesmo que eu parta de novo, lembre-se que eu sempre volto.

renew

Eu já fui muita coisa. Já disse muita coisa. Quis muita coisa. Mas hoje eu quero só ser eu, pode ser?
Eu já me orgulhei. Já sorri. Já até esnobei. Agora eu quero só andar, pode?
Hoje eu descosntrui tudo. E na segunda-feira a vida estará melhor.