Salvador fede a excrementos.

Esse provavelmente não seria um bom slogan para a prefeitura ou para uma agência de viagens. Algumas pessoas não entenderiam porque é necessário dizer que uma cidade tão linda fede.
Mas fede. E muito.

Em alguns lugares, como o que me deu esse lampejo, uma ruela do Centro Histórico por onde saem os que subiram o Plano Inclinado rumo à Cidade Alta, o fedor é bem literal. As fezes e marcas de urina são claramente vistas nos cantos das paredes e nos pedaços de papelão espalhados pelo chão. O turista mais desavisado pode não ter muita sorte. Os nascidos e criados pulam os excrementos tal como fogueiras no São João.

Enquanto pensava essas coisas, passou por mim um homem fazendo zig zag numa bicicleta, embora estivéssemos numa passagem estreita e cheia de pedestres.
- Quer atropelar as pessoas?! - gritou um homem grisalho que não aparentava ter mais que 60 anos.
- Ele a ainda está aprendendo a pedalar - emendei.
O homem, já uns alguns metros à nossa frente, virou seu rosto para trás, e em meio àquele zig zag nauseante e gritou:
- Vocês são todos pretos!
- Obrigada. - respondi sorrindo.
Mas uma moça ao meu lado não distorceu, assim como eu, o significado daquela tentativa de insulto e gritou em resposta.
- E você é branco! Todos os brancos são porcos!

Eu não sei o sentido que ela quis dar à palavras porcos.
Eu não concordo inteiramente com ela.
Mas eu sei que, além da cidade, algumas pessoas em Salvador também fedem a excrementos.