Te amo, sua chata

- Ô, mainha, mande ela parar! - gritava nervoso, enquanto tentava puxar o celular da mão da irmã - Catarina, eu vô quebrar esse celular. Apague aí vá!
- Parem com essa gritaria vocês dois! - gritou a mãe da cozinha.
 A irmã dançava com o celular mão, enquanto corria do irmão, exibindo a foto onde ele vestia um vestido da mãe e usava um salto alto.
- Ô, Catarina, sua chata, pare... - ele começava a chorar.
Nesse momento a irmã se aproximou dele e falou:
- Você quer mesmo que apague? - ele, chorando e dengoso, apenas balançou a cabeça. Séria, ela continuou - Eu posso apagar mas só se você me prometer uma coisa.
- O que?
- Que você nunca mais vai ficar com vergonha de vestir um vestido.
- Como assim? - perguntou, limpando as lágrimas.
- O mundo ás vezes é lugar ruim, Lucas. Eu tô brincando com você, mas as pessoas podem ser cruéis. Agora você ainda é uma criança, mas quando crescer vai decidir se quer usar calça, se quer usar vestido, ou os dois. Um dia você vai descobrir se é hétero, se gay, se é trans e um mundo geralmente é muito malvado com quem é diferente. Então eu quero que me prometa, que mesmo se o mundo for cruel você não vai permitir que te machuquem. Me prometa agora.
- Tá bom eu prometo. - e se abraçaram - Posso contar um segredo?
- Claro. Me conta.
- Eu sei que sou criança e não entendo muito essas coisas, mas eu gosto de vestido e acho os meninos muito mais legais.
- Você ainda tem 8 anos e leva um tempinho pra entender essas coisas. Mas vá sem pressa. Eu vou te proteger sempre que puder. Te amo, pestinha.
- Te amo, sua chata.