tag:blogger.com,1999:blog-28494910647669373922024-03-12T21:13:54.505-03:00Divagações e Devaneios"mesmo miseráveis os poetas os seus versos serão bons" - Francisco Buarque de HollandaLaisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.comBlogger99125tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-49008087961387391762019-03-19T11:50:00.000-03:002019-03-19T11:54:04.768-03:00Isso aqui era pra ser um diário, não é mesmo?Pois bem.<br />
Tenho andado nervosa e inquieta. Dispersa e cansada.<br />
Estou feliz, mas meus ombros doem.<br />
Antes eu queria liberdade agora só quero mais 40 minutos de sono e alguns reais a mais na conta.<br />
Deve ser isso que chamam de fase adulta. Ou não...<br />
<br />
EU ESTOU IMENSAMENTE SATISFEITA POR QUE MEUS DESEJOS FORAM ATENDIDOS... MAS SOCORRO, EU QUERO VIAJAR PRA PRAIA<br />
<br />
Não sei até onde isso faz sentido, mas e daí?<br />
Até por que... ninguém, além de mim mesma, lê isso aqui mesmo...<br />
<br />
<br />Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/13330044397219047360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-17055454211007699812019-01-17T15:00:00.001-03:002019-01-17T15:03:01.349-03:00Te amo, sua chata- Ô, mainha, mande ela parar! - gritava nervoso, enquanto tentava puxar o celular da mão da irmã - Catarina, eu vô quebrar esse celular. Apague aí vá!<br />
- Parem com essa gritaria vocês dois! - gritou a mãe da cozinha.<br />
A irmã dançava com o celular mão, enquanto corria do irmão, exibindo a foto onde ele vestia um vestido da mãe e usava um salto alto.<br />
- Ô, Catarina, sua chata, pare... - ele começava a chorar.<br />
Nesse momento a irmã se aproximou dele e falou:<br />
- Você quer mesmo que apague? - ele, chorando e dengoso, apenas balançou a cabeça. Séria, ela continuou - Eu posso apagar mas só se você me prometer uma coisa.<br />
- O que?<br />
- Que você nunca mais vai ficar com vergonha de vestir um vestido.<br />
- Como assim? - perguntou, limpando as lágrimas.<br />
- O mundo ás vezes é lugar ruim, Lucas. Eu tô brincando com você, mas as pessoas podem ser cruéis. Agora você ainda é uma criança, mas quando crescer vai decidir se quer usar calça, se quer usar vestido, ou os dois. Um dia você vai descobrir se é hétero, se gay, se é trans e um mundo geralmente é muito malvado com quem é diferente. Então eu quero que me prometa, que mesmo se o mundo for cruel você não vai permitir que te machuquem. Me prometa agora.<br />
- Tá bom eu prometo. - e se abraçaram - Posso contar um segredo?<br />
- Claro. Me conta.<br />
- Eu sei que sou criança e não entendo muito essas coisas, mas eu gosto de vestido e acho os meninos muito mais legais.<br />
- Você ainda tem 8 anos e leva um tempinho pra entender essas coisas. Mas vá sem pressa. Eu vou te proteger sempre que puder. Te amo, pestinha.<br />
- Te amo, sua chata.Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-41797513587905220742018-11-08T10:06:00.002-03:002018-11-08T10:13:34.449-03:00Eu não sei que título colocar, então apenas leia. Se quiser. Se não quiser, tudo bem.Chovia na primavera de Salvador.<br />
Eu subia a Ladeira da Praça, em direção ao Centro Histórico, usando um guarda-chuva que me molhava mais do que me protegia. Abraçava minha bolsa de tecido, com estampa de pimentas, acarajés e baianas, comprada também no Centro Histórico. Cruzei com uma senhora que descia a ladeira. Ela devia ter o dobro da minha idade, o dobro do meu peso e seu cabelo era cerca de duas vezes maior que o meu. Ela também vinha com um guarda-chuva que mal a cobria e também abraçava sua bolsa de tecido. Não sei se ela reparou em mim. Mas eu ri da nossa semelhança.<br />
Era só isso. Pode ir à outro sitio agora.<br />
Alias, devo acrescentar que agora está fazendo sol.<br />
Pronto. Agora pode ir.Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-76703827021945801422018-09-19T11:30:00.001-03:002018-09-19T11:30:26.222-03:00à moça no parapeitoEnquanto contemplava, num misto de emoção e raiva, o pôr do sol da Bahia der Todos os Santos, senti um forte impulso para escrever. Eu não tinha folhas, apenas uma caneta. Então pedi emprestada uma folha à escritora ao meu lado que me lembrava muito uma velha e querida amiga.<br />
O agradecimento gerou uma conversa doce. Ela me disse que morava no interior e eu contei que recentemente me mudei para o centro da capital. Eu ensinei a ela o que era performance e ela me disse que eu deveria ter coragem para sentar no parapeito da Praça da Cruz Caída. Me lembrei de tempos felizes e, por alguns minutos, sorri.<br />
Não trocamos contatos.<br />
Não era necessário, nem conveniente.<br />
Aquele momento bastou por si.Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-3848206502878149562018-04-23T13:03:00.000-03:002018-04-23T13:11:49.482-03:00Notas sobre o amor da minha vida- Amooor, cê tá apaixonado por mim?<br />
- Apaixonado por você eu sempre fui. Eu te amo. - me disse, com olhos brilhando.<br />
E, com essa frase, levou eu chão.<br />
Eu, flutuando, olhei para o abismo que se abria sob meus pés.<br />
Sorri e fechei os olhos.<br />
Me joguei de cabeça.<br />
- Eu te amo. - eu disse, nua, deitada sobre seu peito também nu.<br />
<br />
<a href="https://goo.gl/sqsRXo" target="_blank">Ele não sabe, e nem eu sabia, mas faz tempo que eu o espero.</a><br />
<br />
<br />Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-68860221630560395692018-04-20T12:58:00.000-03:002018-04-23T12:44:59.739-03:00A casa cheirava a vômito, álcool e desinfetante barato.<br />
Estava aparentemente limpa, mas o fedor estava ali presente.<br />
Era clara e iluminada, mas havia algumas manchas de umidade nas paredes. Umas linhas do gotejar de água que escorria do teto.<br />
Entramos pelo corredor, guiados pela prima Janice, que era a cozinheira, limpava a casa e também atendia a porta e o telefone. Prima Janice não era empregada, ela estava ali para cuidar de Julinha. Na janela da sala a enfermeira comia um sanduíche de frango e ricota. Talvez pela luz, talvez para fugir do fedor.<br />
Entramos no quarto.<br />
O quarto não fedia , talvez pelos cuidados com a doente. Prima Janice entrou conosco no quarto e tirou do balde de lixo um saco com papel e algodão sujos de sangue e fezes. Pôs um saco limpo no lugar e foi saindo. Ao chegar à porta, nos preveniu:<br />
- Dizem que ela ouve, mas eu acho que não ouve não. Se vocês acham que ouve, falem. A bichinha tá precisando. Uma moça tão nova... - e saiu pelo corredor repetindo - Uma moça tão nova...<br />
Julinha estava deitada na cama tubular que ficava no centro de seu antigo quarto. Usava um vestido branco de linho e tinha seus longos cabelos cacheados presos num coque no topo da cabeça. Sua pele, que sempre fora tão brilhante, tão negra, estava agora um tanto acinzentada. E os lábios... Ah, esses lábios que eu tanto beijei, estavam agora ressecados e sem vida. Julinha tinha os olhos abertos, mas perdidos pelo teto. Não aqueles olhos curiosos perdidos na imensidão de sua alma escorpiana. Mas olhos petrificados, como se sua curiosa alma escorpiana sequer estivesse ali.<br />
A enfermeira entrou no quarto sem que percebêssemos.<br />
- Vocês são amigos da dona Júlia? - ela perguntou e eu sobressaltei. - Perdão, não me viram entrar?<br />
- Eu não vi. Mas tudo bem. - e sorri, a fim de tranquiliza-la - Não, nós somos casados.<br />
- Eu não entendi. Vocês duas são casadas? É isso?<br />
- Não, nós somos casados. Nós três. Eu, Julinha e o Pedro.<br />
- Me desculpe, é que que eu nunca vi isso. Mas o filho dela, digo, de vocês, sabe de tudo?<br />
- Claro. Temos 2 filhos. O Arthur e o Caio. O Caio eu gerei e tá com a gente. Mas o Arthur, que Julinha gerou, os pais dela levaram quando a trouxeram pra cá. A gente achou melhor não trazer o Caio hoje. Dissemos que a mãe Júlia tá doente e o Arthur, como é mais velho, veio cuidar dela.<br />
- Que bonito isso. Vocês parecem ser uma família bonita. Assim, diferente, e bem bonita.<br />
- Eu agradeço. Somos muito unidos. E voltaremos a ser quando a Julinha voltar pra casa.<br />
- Isso... Bem...<br />
- Ela vai voltar. Ela e o nosso filho. Nós já conseguimos isso na justiça, por que ela é legalmente casada com o Pedro e os pais dela não podem afastar-los da gente.<br />
- O moço não fala nada? - olhei para Pedro, aguardando uma resposta. Ele, que apertava os lábios e segurava o choro, só acenou um "não" com a cabeça.<br />
- Sinto falta... - foram as únicas palavras que ele disse naquela tarde. Depois sentou-se na lateral da cama se não segurou mais o choro.<br />
- Querida, a ambulância já está vindo. - continuei - Vem também um oficial de justiça. Mas nós queremos que você continue com a Julinha, nos ajudando a cuidar dela. Você quer vir?<br />
- Sim, me apeguei à dona Júlia. - disse sorrindo. Eu segurei a mão dela e a abracei.<br />
- Viu, amor, nós vamos para casa. - eu disse. E comemoramos os três ao ver Júlia esboçar um sorriso com o canto direito da boca.<br />
Batidas à porta.<br />
- Janice, por que tem uma ambulância aqui na porta? - ouvi a voz do pai de Julinha.<br />
- Tio, o casal tá lá no quarto.<br />
- O que?! - ele gritou<br />
Batidas à porta novamente. O oficial de justiça chegou.Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-71086522663625989812018-04-04T12:02:00.000-03:002019-01-17T15:04:30.966-03:00Eu mudei.<br />
À escrever sobre gélidas manhãs em Londres, prefiro falar dos finais de tarde abafados no centro antigo de Salvador.<br />
À escrever sobre cigarros com copos de whisky, prefiro descrever garrafas de cerveja estupidamente geladas acompanhadas de petiscos baratos.<br />
À escrever dramas cheios de assassinatos, prefiro relatar a conversa de Dona Marieta com a ex esposa no ponto de ônibus, enquanto ambas esperam o ônibus para a cidade baixa.<br />
<br />
Eu mudei.<br />
Eu sou artista, ou pelo menos bacharela interdisciplinar em artes, de acordo com a federal.<br />
Eu sempre esqueço de pagar a conta de luz, mesmo com o dinheiro na carteira.<br />
Eu gasto meu salário quase todo com comida, álcool e maquiagem.<br />
Eu tenho oito tatuagens, um piercing no septo e três furos na orelha direita.<br />
<br />
Eu mudei.<br />
Mas ainda choro vendo arte.<br />
Ainda amo apagar todas as luzes da casa e dançar nua no escuro.<br />
Ainda amo beber um bom vinho enquanto escuto MPB ou um jazz.<br />
Ainda amo me sujar de tinta nas manhãs de sábado.<br />
<br />
Eu mudei.<br />
Mas nem tanto assim.Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-7741431274046272342018-04-04T10:58:00.000-03:002018-04-23T12:37:06.170-03:00Eu matei todos elesCreio que que matei muitas pessoas quando parei de escrever.<br />
A Dona Neide, que me apareceu no ônibus numa tarde de quarta-feira, nunca pôde encontrar seu grande amor...<br />
O casal Leopoldo e Daniela que eu imaginei tendo um primeiro encontro na Praça da Cruz Caída nunca teve um segundo encontro...<br />
Aristela nunca contou ao seu pai que descobriu no banheiro da casa da avó que estava grávida...<br />
Maria João nunca soube o que a prima Jucinha, aquela debochada, achou do seu novo corte de cabelo...Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-48522100806208578312017-10-13T21:46:00.000-03:002017-10-13T21:54:03.077-03:00E, quando finalmente terminei de falar, ela deitou minha cabeça em seu colo e disse:<br />
<br />
- Ô, preta, eu creio que te compreendo perfeitamente. Sabe outro dia eu estava chorando, chorando muito. Nada estava dando certo e minha vida estava a beira de uma tragédia. Mas, depois pensei: eu desejo tantas coisas, eu espero tantas coisas... Acredito mesmo que esses desmoronamentos na nossa vida vem pra testar o quanto estamos no nosso eixo, o quanto merecemos o que desejamos. Sei que isso é um pouco clichê, mas há tantas coisas no mundo que não entendemos. Tantas forças que desconhecemos. Acredito que essas forças, como tudo na natureza, tem um caráter cíclico. E, gente que deseja coisas bonitas atrai coisas bonitas. Mas, antes de chegar no paraíso a gente precisa mesmo ficar de lama até o pescoço.<br />
<br />
Nesse momento eu me levantei, olhei bem fundo nos olhos dela e não sabia mais no que pensar além do fato de que eu estava irreversivelmente apaixonada por aquela mulher. Foi o melhor beijo da minha vida.Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-5628972272355404862017-09-13T08:30:00.002-03:002017-09-13T08:30:51.804-03:00Mandala de areiaEu vi uma mandala de areia.<div>
Eu vi uma mandala de areia e me perguntei por que dedicar tempo a uma coisa tão efêmera.</div>
<div>
Eu vi uma mandala de areia e pensei que, de certa maneira, tudo que fazemos é efêmero.</div>
<div>
Eu vi uma mandala de areia e comecei a pensar em como a própria vida também é efêmera.</div>
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<br /></div>
<div>
Eu vi uma mandala de areia e pensei que esse coração partido um dia se cura.</div>
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Eu vi uma mandala de areia e pensei que essa dor um dia passa.</div>
<div>
Eu vi uma mandala de areia e pensei que essas lágrimas entaladas um dia caem.</div>
<div>
Eu vi uma mandala de areia e pensei que esse amor enrolado de corda um dia chega.</div>
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<br /></div>
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Eu vi uma mandala de areia e, pela primeira vez desde aquela nossa infeliz conversa, sorri.</div>
Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-66755888983648759372017-09-12T22:43:00.000-03:002017-09-12T22:49:13.683-03:00Então eu me aproximei, no intuito de ajudar aquele homem idoso e disse:<br />
- Senhor, o senhor sabe exatamente o que está fazendo?<br />
Ele parou o que estava fazendo, pôs-se ereto e olhou-me grave:<br />
- Minha filha, ninguém sabe exatamente o que está fazendo.Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-35781699220670567052017-05-30T23:57:00.005-03:002017-05-30T23:57:53.733-03:00Fazendo um balanço, acho que estou indo bemHoje no ônibus entrou um moço fedendo a mijo e cachaça. Eu senti nojo dele.<br />
Então eu lembrei da aula de ontem a tarde quando conversamos sobre Manuel Bandeira, Bauman e o refugo humano gerado pelo capitalismo. Lembrei que eu comentei como a desumanização dessas pessoas revela nossa própria desumanização. Eu senti nojo de mim.<br />
<br />
Quando desci do ônibus vi algumas pessoas sentadas atrás do hospital esperando a condução. Eles pareciam cansados. Sorri e desejei-lhes uma boa tarde. A moça de longas saias com o terço na mão que vinha logo atrás de mim não desejou boa tarde. Eu fiquei triste por ela. Eu senti orgulho de mim.<br />
<br />
Fazendo um balanço, acho que estou indo bem.Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-36929344293272291552017-05-17T10:11:00.000-03:002017-05-17T10:23:03.831-03:00Eu prefiro os dias sem sol. Sem chuva.<br />
Ou eu acho que prefiro os dias de sol.<br />
Mas o sol me dá alergia.<br />
Coça, arde, incomoda.<br />
Sendo assim, prefiro que ele fique escondido.<br />
<br />
Também gosto de banhos de chuva.<br />
Mas não é bom chegar no trabalho ou na faculdade com roupa ensopada e papel molhado.<br />
Então prefiro que não chova.<br />
<br />
Mas tudo isso é irrelevante.<br />
Porque Salvador é uma cidade é bipolar.<br />
Então se chove de manhã, à tarde faz sol e à noite volta a chover.<br />
E se o dia amanhece aberto, depois fecha e chove. E depois abre e faz sol.<br />
Há de se sair com roupa fresca, além de guarda-chuva e casaco.<br />
<br />
Acho que prefiro mesmo é café.<br />
Dias de tempo fechado. Sem chuva.<br />
Sem greves de ônibus e com biscoitos assando no forno.<br />
Um vinho no final do dia e um bom livro antes de dormir.<br />
<br />
Um amor cairia bem, mas isso não é tão necessário.<br />
O vinho, esse sim, é necessariíssimo.Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-12700038730964396442017-05-02T00:21:00.000-03:002017-09-13T08:33:16.903-03:00Rotatividade- Você sempre tem um favorito, não é?<br />
- O que? - e quando me virei Raquel já estava longe, a caminho da cozinha.<br />
- Eu disse que você sempre tem um favorito! - gritou já do outro cômodo.<br />
- Como assim favorito?!<br />
- Desses seus contatinhos. - disse, enquanto apoiava o ombro na porta da cozinha, o que me dava indícios de que a explicação seria longa - Sempre tem um que faz seus olhos brilharem. Aquele que você sorri quando vê a notificação e que te faz mover toda sua agenda para encontrar. Você até fica desapontada quando espera uma mensagem dele e vê que é de outro contato.<br />
- Mas eu nunca gosto de um só.<br />
- Eu sei. É por isso que você fica triste quando o favorito some e trata logo de arranjar outro para ocupar a vaga. Sempre tem que ter um favorito.<br />
- O que significa isso?! - perguntei, em parte atônita e, em parte, dramática.<br />
- Rotatividade - me respondeu enquanto saía da cozinha com um pedaço de pão e um copo de cerveja, caminhando em direção ao sofá.Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-71060853051659554242017-03-10T11:02:00.002-03:002017-03-10T11:02:54.477-03:00Por amores já chorei que nem viúva"Fiquei imaginando isso... Tu no meu colo, eu te fazendo carinho. A gente conversando sobre alguma viagem... Tu fechando os olhos, eu te beijo e tu sorri... Depois te deixo dormir..."<br />
<br />
E foi essa a primeira coisa que eu li na manhã ontem. Eu já tinha caído no sono quando ele enviou. Leonardo era tão doce. No inicio ele era só mais um match no Tinder. Mas, algo em sua conversa, em sua preocupação. Eu fui me apaixonando por ele. Confessei assim que me dei conta, ou melhor assim que ele disse que amava quando eu o chamava de meu anjo. E eu te amo. Eu disse sem pensar duas vezes, embora tenha me arrependido em seguida e, como de costume, perguntei a mim mesma que merda eu havia acabado de fazer. Mas ele, um anjo, disse que também me amava e que estava reunindo coragem para para contar. Isso aconteceu 3 dias atrás.<br />
Ontem eu reuni, além de coragem, dinheiro e fui até a casa dele. Fiquei 7h40mim num avião. Ele, tal qual Nina de Chico Buarque, já havia me mostrado na tela a cidade o bairro a chaminé da cada dele. Quando desci na rodoviária eu sabia exatamente para onde ir. Eu só não sabia que antes de vê-lo veria sua esposa no jardim brincando com 2 menininhas e um bebe. Eu fui pelos fundos e coloquei fogo na casa. Ninguém morreu. Isso não faz de mim uma pessoa ruim, faz?Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-32988691280959264312017-01-27T08:58:00.001-03:002017-01-27T09:00:26.480-03:00Salvador fede a excrementos.<br />
<br />
Esse provavelmente não seria um bom slogan para a prefeitura ou para uma agência de viagens. Algumas pessoas não entenderiam porque é necessário dizer que uma cidade tão linda fede.<br />
Mas fede. E muito.<br />
<br />
Em alguns lugares, como o que me deu esse lampejo, uma ruela do Centro Histórico por onde saem os que subiram o Plano Inclinado rumo à Cidade Alta, o fedor é bem literal. As fezes e marcas de urina são claramente vistas nos cantos das paredes e nos pedaços de papelão espalhados pelo chão. O turista mais desavisado pode não ter muita sorte. Os nascidos e criados pulam os excrementos tal como fogueiras no São João.<br />
<br />
Enquanto pensava essas coisas, passou por mim um homem fazendo zig zag numa bicicleta, embora estivéssemos numa passagem estreita e cheia de pedestres.<br />
- Quer atropelar as pessoas?! - gritou um homem grisalho que não aparentava ter mais que 60 anos.<br />
- Ele a ainda está aprendendo a pedalar - emendei.<br />
O homem, já uns alguns metros à nossa frente, virou seu rosto para trás, e em meio àquele zig zag nauseante e gritou:<br />
- Vocês são todos pretos!<br />
- Obrigada. - respondi sorrindo.<br />
Mas uma moça ao meu lado não distorceu, assim como eu, o significado daquela tentativa de insulto e gritou em resposta.<br />
- E você é branco! Todos os brancos são porcos!<br />
<br />
Eu não sei o sentido que ela quis dar à palavras porcos.<br />
Eu não concordo inteiramente com ela.<br />
Mas eu sei que, além da cidade, algumas pessoas em Salvador também fedem a excrementos.Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-24151037494530611402016-10-06T10:26:00.000-03:002016-10-06T10:39:48.684-03:00Tinha uma frase na minha cabeça, mas eu a esqueci, sendo assim, vou falar delaEu não tenho feito outra coisa nos últimos dois dias além de pensar nela. Ou lembrar dela. Ou lembrar do nosso beijo. Ou de quando eu queria, mas não a beijei.<br />
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<br />
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Eu quis beijá-la 30 segundos após o segundo em que a vi pela primeira vez. Ou talvez menos de 30 segundos. Mas mesmo com toda essa vontade jamais imaginaria que fosse tão bom os gosto da sua boca. </div>
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O meu coração chega a disparar e ainda posso sentir o quão macios são seus lábios.</div>
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Ela é tão linda. Ela me fez confirmar a paixão que tenho pelo corpo. Meus olhos não podem vê-la. Mas quando ela me abraça eu posso vê-la com cada fibra, cada célula, cada fluido.</div>
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<br /></div>
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Ah, quando ela me abraça... </div>
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Não há crise profissional, acadêmica ou financeira que me alcance quando ela me abraça. Só consigo pensar em como ela é linda e na vontade de beijá-la novamente. </div>
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E novamente. </div>
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E novamente. </div>
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E novamente. </div>
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Como no dia em que nos conhecemos.</div>
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<br /></div>
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No dia em que nos conhecemos, eu, insegura e encantada, mirava seu rosto. Estávamos deitadas na grama. E ela pôs a mão em minhas costas me aproximando os cinco centímetros que faltavam para que meus lábios tocassem os seus. </div>
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Naquele momento mágico eu senti seu corpo, tão feminino, tão envolvente.</div>
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Passamos uma hora eterna e breve nos beijando interruptamente. </div>
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<br /></div>
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Segunda quero visitá-la.</div>
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Quero levar flores.</div>
Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-28344097246727771692016-09-12T08:58:00.003-03:002016-09-12T08:58:57.657-03:00Então eu sento. <div>
Analiso as possibilidades.</div>
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Calculo a probabilidade de cada uma dar em merda. </div>
<div>
E escolho a com chances mais altas.</div>
Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-34791172545317936632016-07-31T18:08:00.000-03:002018-04-04T11:02:48.528-03:00Não te dá um certo desconforto pensar que estamos tranquilamente sentados num planeta que gira muito rapidamente em torno de si mesmo e em torno de uma estrela em chamas com forte poder de atração e isso tudo num Universo que se expande continuamente?Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-80668241289251144322015-08-01T19:08:00.000-03:002015-08-01T19:08:01.835-03:00para aquela que eu costumava chamar de minha menina Às vezes eu sinto sua falta. <br />
E nessas horas tenho vontade de te ligar. <br />
Eu provavelmente perguntaria, meio sem graça, como você está. E já imagino sua resposta impaciente. Eu faria mais uma ou duas perguntas e você inventaria uma desculpa para desligar. Não nos falaríamos novamente. <br />
Às vezes eu penso por que você foi embora. Você não precisava ter ido...<br />
<br />
É mentira. <br />
Não sinto vontade de te ligar. <br />
Nem penso em por que você foi embora. <br />
Estava lendo uns textos antigos e pensei nisso agora. <br />
Mas acho mesmo que você não precisava ter ido.Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-70678933669746111512015-01-17T12:18:00.001-03:002015-01-17T12:18:06.546-03:00<br />
Lembra que eu falei que só ia te esquecer quando aquela marca que você deixou em meu braço sumisse? Ela já quase não aparece. Na verdade está tão fraca que só eu a enxergo.Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-52321360413717638002014-12-30T06:27:00.000-03:002019-01-17T15:14:57.506-03:00Notas sobre um quase relacionamento<br />
Para os meus amigos nós estávamos namorando. Para nós, nunca. Ou pelo menos eu nunca o achei e ele nunca fez questão de me convencer do contrário. Ou talvez ele pensasse nisso quando disse que 'a coisa estava ficando séria', o que aconteceu pouco antes de eu me fazer de desentendida.<br />
<br />
Eu acho que me apaixonei pela ausência dele.<br />
Era lindo lembrar dele comigo na cama me fodendo com força ou me dando colo e dizendo coisas bonitas. Isso é uma quase verdade. Ele não me dizia coisas bonitas. Na verdade ele nao me dizia quase nada. Por isso sua presença nao era tão interessante quanto sua ausência. Quando ele estava perto. Eu tinha que falar com ele quase por obrigação. E suportar seus silêncios. Também as coisas que ele falava não me interessavam muito. Mas sua ausências, por outro lado, eram mágicas. Sentir falta dele era meu sentimento favorito. Eu adorava esperar a que momento do dia eu poderia ve-lo cruzar alguma rua a distância. Meu coração acelerava se eu via ao menos parecido. Se fosse ele, de fato, a graça diminuía, mas ainda era excitante observar seus passos a distância. Odioso era quando ele se aproximava. Ou quando eu por obrigação ou esquecimento ia ao seu encontro.<br />
<br />
<br />
Mas acabou. Como tudo na vida acaba. Hoje ele é meu personagem. E sua ausência agora será, inevitavelmente, objeto do meu amor eterno.Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-9189740511853579452014-12-09T22:06:00.003-03:002014-12-09T22:06:59.346-03:00- Nego, como é seu nome mesmo? - perguntei pela terceira ou quarta vez.<br />
- Dorival - ele me respondeu rindo - Lembre de Dorival Caymmi que você não vai mais esquecer.<br />
- Menino, agora eu não vou esquecer seu nome nunca mais!<br />
<br />
E não esqueci mesmo. <br />
E, mesmo que tentasse esquecer, a marca de mordida que aquele escorpiano deixou em meu braço me faria lembrar...Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-55894344648430988502014-11-01T19:40:00.001-03:002014-11-01T19:42:37.953-03:00Eu acho que entendo como ele se sentia.<br />
Eu já quis, em algum momento, estar perto e longe.<br />
Emocionalmente já estive. E creio que ele o tempo todo. Mesmo antes da canoa.<br />
<br />
Acho que todo jovem já teve uma fase assim.<br />
Não exatamente assim. Mas assim.<br />
A minha passou. A dele não.<br />
<br />
Não entendo o rio.<br />
Não é minha realidade.<br />
Nem as árvores.<br />
Mas entendo o longe e perto.<br />
<br />
Eu não fiz. Eu teria me arrependido. Hoje.<br />
Ele não.<br />
Ou ele sim.<br />
Ele quis voltar. Acho que quis.<br />
<br />
Eu acho que entendo ele.<br />
O narrador sabe de muita coisa.<br />
Eu só acho.<br />
<br />
<br />
- Texto inspirado pelo conto A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa.Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2849491064766937392.post-40963094658266847452014-10-04T13:25:00.000-03:002014-10-04T13:25:20.213-03:00sobre ontemE ai? Ele me perguntou após me responder que sim, havia beijado a outra menina.<br />
Eu disse a ele que estou confusa. Disse que estou com raiva dessa história de haver menina. Disse que não é normal eu sentir isso e que eu não sei o que está acontecendo comigo.<br />
<br />Disse isso andando de um lado pro outro da sala, quase me esbarrando nas paredes. Enquanto ele, quieto, me observava.<br />
<br />Eu disse que o outro dia no restaurante universitário foi constrangedor. Parecia que eu e a outra moça o estávamos disputando. Disse que se eu não passei por isso na adolescência, não o passaria agora. Ele nada respondeu.<br />
<br />Pedi um pouco de... Água?; ele completou. Sim, por favor; respondi.<br />
<br />Ele me perguntou se eu não estaria o amando. E eu ri. E meu riso, de tão forte que ecoou pelo prédio inteiro. Eu não queria. Mas ri.<br />Eu ri de desespero. Mas não sei se ele sabia.<br />
<br />Eu disse a ele que pensei em não ir na casa dele por uma tempos. Até a poeira baixar. Ele me perguntou se minha solução era não ir mais na minha casa. Eu ri sem graça e perguntei qual a solução dele. Ele não respondeu.<br />
<br />04/10/2015<br />Salvador, Bahia, Brasil.Laisa Maria Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/04698480581818539523noreply@blogger.com4