Eu mudei.
À escrever sobre gélidas manhãs em Londres, prefiro falar dos finais de tarde abafados no centro antigo de Salvador.
À escrever sobre cigarros com copos de whisky, prefiro descrever garrafas de cerveja estupidamente geladas acompanhadas de petiscos baratos.
À escrever dramas cheios de assassinatos, prefiro relatar a conversa de Dona Marieta com a ex esposa no ponto de ônibus, enquanto ambas esperam o ônibus para a cidade baixa.

Eu mudei.
Eu sou artista, ou pelo menos bacharela interdisciplinar em artes, de acordo com a federal.
Eu sempre esqueço de pagar a conta de luz, mesmo com o dinheiro na carteira.
Eu gasto meu salário quase todo com comida, álcool e maquiagem.
Eu tenho oito tatuagens, um piercing no septo e três furos na orelha direita.

Eu mudei.
Mas ainda choro vendo arte.
Ainda amo apagar todas as luzes da casa e dançar nua no escuro.
Ainda amo beber um bom vinho enquanto escuto MPB ou um jazz.
Ainda amo me sujar de tinta nas manhãs de sábado.

Eu mudei.
Mas nem tanto assim.

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