Sem título 4

Eu achava era graça de quando eu, espevitada, começava a dar meus escândalos por achar alguma coisa bonita e você, tentando parecer sério dizia "quieta o faixo, menina".

Eu achava era graça quando você passava pela sala e satirizava os filmes que eu tando amava. Eu brigava, mas por dentro eu ria.

Eu morria de rir quando você gritava pela bola que nem perto da rede do Bahia passou e me culpava dizendo que "torcedora do Vitória por perto dá azar".

Eu morria de rir quando você reclamava da quantidade de trabalho que lhe davam e depois dizia entender "por que sendo um funcionário tão bom, é natural receber responsabilidades".

Eu não aguentava o riso quando você elogiava com ironia a vizinha que, com suas roupas curtas, mostrando o que não devia, pensava estar linda.

Eu não aguentava o choro quando você viajava.
Eu não aguentava o choro quando você chegava irritado e não queria me contar o que aconteceu, 'pra não me preocupar'.
Eu não aguentava o choro quando você, escondido no escuro do nosso quarto, via fotos da sua falecida mãe.
Eu não aguentava o choro quando você olhava as crianças brincando no parque, triste, por que eu não podia lhe dar teu filho.

Mas, mais do que tudo isso, eu não posso aguentar a vida sem você.
Desculpa, mas tenho que ir.
Ir pra longe dessa vida.

Nenhum comentário: