essa menina e o moço.


nem bem acabou a noite e essa menina já foi pra varanda. O sol ainda nem raiou e já está com essa xícara na mão. O moço, ainda sem camisa, aparece na porta.
– Mas já tão cedo?
Ela ri. E o moço coça a cabeça, ri e volta pra cama.
– que moça foi essa que eu achei.
O sol já está nascendo. Essa menina o observa, atentamente. Com lágrimas nos olhos vê os raios amarelos rasgarem o horizonte, invadindo a imensidão até então escurecida. É hora de entrar, essa menina. O moço já tá fazendo novo café. Um abraço. Um carinho. Um beijo de tirar o folêgo. E ligam o chuveiro.
Esse moço tem que trabalhar. Nem bem ele coloca as lentes na mochila e essa menina pula nas costas dele.
– Tire uma foto minha!
Mais um beijo. Sorrisos. O moço vai trabalhar.
Ele se vai. Ela fica. E põe as telas na varanda. Uma caixa. Caixa não, um baú! Um baú de cores em potes de tintas. Um arco-íris pronto para atacar a limpa e inocente tela em branco. E essa menina brinca. E como brinca. Pinta mais a si que a branca tela. E com esse arco-iris nas mãos, no sorriso e nos olhos, vai atender a porta.
– Entrega.
– Pois sim.
– São seus esses livros?
– São sim.
– Assine.
– Pois não.
Um Chico Buarque, uma Nara Leão e mais um monte de gente sussurando suas poesias para essa menina. E essa menina vai escrever suas próprias poesias. Seus textos, romances, suas crônicas, seus versos.
E volta o moço. Essa menina escrevia sentada na varanda. Esse moço, pra não atrapalhar, passa na ponta dos pés. Na ponta dos pés, como vivem a vida. As cores, a tinta, a arte e a poesia. E a fotografia, o mundo em doces lágrimas, sorrisos e um querer maior que o mundo todo.
Essa menina e o moço não sabem, nem nunca devem saber. Mas esse amor de poesia, essa arte bem contada é o que lhes põe de pé. O mundo parece muito. e muito parece palpável. E a vida é mais e mais, muito mais do que poderiam esperar.

Cansado, o sol vê as horas.
– Tenho de ir, – diz o sol.
E a essa menina tambem tem de ir. Dormir. Por que a aurora do dia que vem a espera. E dormem, vendo as estrelas, e contando, uma por uma, como meninas brilhando no céu.

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