A vendedora de flores

Era mais uma gélida manhã em Londres. Mas a calmaria das minhas férias seu lugar a uma tempestuosa torrente de perguntas, que pouco a pouco, implodiam minha mente. Quem era aquela mulher, que conhecia tão bem a mim e a papai? Acaso conheceu ele no passado? Ou, pior, será possível que seja uma namorada antiga? Essas perguntas bombardeavam minha mente, e a busca pelas respostas me deixava, ora ansiosa, ora temerosa. E se for mesmo a vendedora de flores? Tenho uma vaga lembrança dela, e papai disse que me conhecia bem. Ok, é uma teoria. Se bem que essa se parece tanto com a vendedora, que é quase uma certeza. Acho que, na verdade, se eu puser umas rugas e pés de galinha na foto de papai verei a mesma pessoa. Fiz toda força para me lembrar da vendedora, mas só lembro mesmo da última vez que a vi. Lembro-me que chorava, acho que eu também chorava. Chorei ao ver ela partir. Em suas mãos a velha cesta de rosas, e o cheiro de rosas ia embora com ela. Por que? Por que nada mais? Perguntarei a papai, assim que chegar em casa.
– Pai. – eu disse, enquanto punha o jantar dele.
– Sim, querida.
– Vi hoje uma moça que me lembrou aquela vendedora de flores... – papai deixou cair o copo de wisky, seus olhos se abriram, e ele fazia movimentos rápidos com a cabeça. – Calma papai, o que houve?
– Essa, mulher que você viu, ela falou com você?
– Umas coisas, mas eu não fiz questão de prestar muita atenção.
– O que ela disse, Audrey? O que ela disse?
– Meu pai, se acalme. Ela só perguntou por você, disse que nos conhecia, perguntou como estou, mas nem ao menos se identificou. Eu que a achei parecida com a vendedora. E além do mais, ela me lembrou do cheiro de rosas que senti quando a vendedora partiu.
– Você se lembra de quando a Ashley partiu?
– Então esse era o nome dela? Ashley – repeti ainda umas duas vezes na mente, e continuei. – Não me lembro muito. Só que lembro que chorei, ela chorou e eu queria ir com ela. Pai, tem alguma coisa que você talvez queira me contar?
– Filha, depois do jantar conversamos, está bem assim?
– Está bem, papai. Eu já terminei de pôr a mesa, pode vir.

5 comentários:

Alessandra Santos disse...

Vi seu outro blog, mas não me encontro muito nesse mundo da moda, sabe... Mas gostei desse seu espaço e, principalmente, desse texto que parece terminar "de repente", deixando uma ideia sem um ponto final e isso é inquietante. Gosto de textos que mexem com quem está lendo.

Interessante esse clima de mistério. Termina sem dar qualquer resposta e deixa que o leitor decida o seu fim e tente desvendar os segredos que essas linhas podem esconder. Deixa tudo no ar. Gosto disso porque, pra mim, é um convite a imaginar, a embarcar numa história que começa aqui e termina em algum lugar que não conheço e que só meus pensamentos podem me levar.

Obrigada pela sua visita. Até mais!

Anônimo disse...

Um aroma que permanece na memória nenhum vento do tempo apagará jamais.

Um beijo

PS:Agradeço a visita e palavras !

Heloisa Foschini disse...

Acredito que tenho a sorte de morar perto de montanhas, lagos e sem todo esse ar de cidades grandes, mas às vezes sinto tanta falta de pessoas com quem conversar, onde moro só existem pessoas sem o minimo de interesse em coisas culturais (leia-se fúteis), sinto falta de São Paulo.
Que bom que voltou a escrever.

Deftones disse...

Antes de qualquer coisa, eu já tinha vindo aqui, antes de ver o outro blog de moda. Mas fiz questão de comentar lá primeiro; esse aqui mereceria, e merece, mais tempo, mais leitura, mais divagações, assim, acompanhadas das suas. E, convenhamos, a temática estética não o torna, por apenas isso, fútil. A futilidade é algo que está presente em mais campos do que pensamos... Há quem fuja da futilidade "tradicional" (se assim podemos chamar) recaindo em outra(s)... Enfim...

Em relação ao conto, eu achei curioso, aliás, curioso ele o é pela própria natureza. Transmite com facilidade a sensação de surpresa do pai, e a sensação de calma da Aldrey. Apesar de dar mais liberdade a quem lê, cabendo a cada qual imaginar a continuidade do que se passa, gosto da sensação de que algo de fato aconteceu, para além do que possamos interpretar... isso para ficarmos apenas no lado objetivo da coisa.

aivilana disse...

Nossa, adorei o suspense do texto.
Se fosse para darmos opiniões de como seria o final da história, e assim, quem seria a mulher, eu diria ser a mãe dela, haha! :)

Muito legal o Blog. :)